Fiquei com trauma do dia de sábado. Mamãe teve o infarto no sábado, dia 26 de março e faleceu cinco semanas depois, também no sábado, último dia do mês de abril. Quando a semana, em que estou cheia de afazeres, acaba, quando chega o sétimo dia da semana, fico triste. O dia termina e fica a sensação de que está faltando alguma coisa, uma sensação de desconforto, de uma certa angústia. Por coincidência, meu pai também partiu num sábado, último dia de um mês de agosto; todos os acontecimentos ocorreram por volta das quatro horas da tarde.
Reservei para hoje a homenagem feita por uma grande amiga, Maria Augusta – Dusty, amiga de todos nós desde a adolescência, que mandou celebrar uma missa em Salvador e procunciou as seguintes palavras:
O que Dona Nilda representou na minha existência?
Respondo:
Bondade que partiu, saudade que ficou.
Neste momento orante de ternura, volto-me ao passado, mais precisamente para o Rio de Janeiro, década de 60, Bairro do Flamengo, Rua Senador Vergueiro, Ed. Capibaribe, juventude efervescente, engajada e comprometida, nos valores do momento presente. Vivíamos intensamente o glamour do chamado Anos Dourados e fazíamos parte de um grupo de jovens idealistas, do qual Dona Nilda representava o cerne, a convergência, o centro dos nossos sonhos e aspirações.
Mãe dedicada, incansável, abria as portas de sua casa, assim como abria seu coração para nos acolher com seu infinito amor. Dona de uma postura elegante, sua beleza, (Dom de Deus) infinita, sabia como ninguém conquistar os jovens.
Todos nós, do grupo Nós, e de outros grupos do Flamengo, gostávamos de estar em sua casa, desfrutando e usufruindo das conversas amenas, bate papos intermináveis, idealizações, discussões, em torno de temas variados, sempre ao som dos Beatles e dos Rolling Stones.
Ao chegar os fins de semanas, era uma revoada de jovens que se reuniam e se aninhavam em seu lar, sempre barulhentos, irrequietos e questionadores. Assim, ela se deslocava no seu espaço em torno das queridas filhas: Maria Luiza, Silvinha e Ana Virginia, que ainda pequena, não participava desses encontros. Neste ambiente, eu, Maria Augusta, a Dusty, como era chamada, me sentia acolhida e parte integrante dessa família querida.
Portanto, Dona Nilda, devo-lhe e agradeço-lhe a alegria da minha juventude sadia, bem vivida, cercada e fundamentada em valores espirituais, morais e sociais. Hoje percebo o quanto não lhe era difícil nos dizer sim, mas o seu devotamento, empenho e amor pela nossa juventude fazia com que rompesse muitas vezes barreiras para nos proporcionar sempre o melhor. Certa vez, quando Padre Guy Ruffier, nos encaminhou para um determinado trabalho comunitário, do qual Dona Nilda discordou, veementemente, colocou a sua opinião contraria, eximindo-nos daquelas ações sociais, que para ela não eram condizentes com a nossa maturidade.
Pois bem, este é o perfil da nossa querida e saudosa amiga.
Hoje, não podemos voltar a reter o tempo, pois segundo Santo Agostinho, ninguém pode controlá-lo. Entretanto, aqui reunidas, entoamos uníssonas um cântico de louvor, e em pensamento nos lembramos de Dona Nilda em sua morada definitiva, lembrando desta pessoa que se deu por amor intensamente aos jovens.
Para mim, o seu ser, representa este verso de Fernando Pessoa:
“Não sou nada, mas tenho todos os sonhos do mundo."
Pois bem, Dona Nilda, saiba que a senhora me ensinou a sonhar. Muito Obrigada, que a sua saudade seja uma força viva, quando torna o meu passado presente, trazendo para mim nesse momento, novas e desafiadoras razões de viver.
Obrigada,
Maria Augusta.
É, minha irmã, os sábados se tornaram para nós muito difíceis!. É um dia off, próprio para realizar coisas prazerosas, mas nos deixou esse sinal trocado na memória.
Puxa, como a mamãe está linda nessa foto!
As palavras da Dusty me fizeram chorar. Até porque ela captou e descreveu exatamente o espírito de nossa mãe, uma mulher amorosa, jovial, bela e de um espírito completamente acolhedor.
Nossa, faz tanto, tanto tempo que não vejo a Dusty! Mas me lembro muito dela.
Bj, minha irmã, com mta saudade.
Gina
Beijos, minha irmã, e que Deus te proteja.
Caramba!!! Muito profundas essas palavras!!! Conseguiu arrancar lágrimas sem muito esforço…
Obrigada, Valéria, que bom que você gostou.
É mesmo lamentável o que ocorre com nosso patrimônio histórico. É a nossa história sendo destruída, jogada no lixo.
Um grande abraço,
Maria Luiza Heine