No ano de 1881 a vila de São Jorge dos Ilhéus, fundada na primeira metade do século XVI, foi elevada à categoria de cidade. Completou, portanto 130 anos de cidadania.
Recapitulando um pouco de sua história, podemos afirmar que, apesar de não ser reconhecida nacionalmente, nem nos livros, Ilhéus teve um importante papel na história do Brasil Colonial, segundo diversos autores, inclusive o professor Arléo Barbosa. Ilhéus possuiu vários engenhos de açúcar. Desta época temos ainda a Capela de Nossa Senhora de Santana, na localidade do Rio do Engenho. Sua população rechaçou os franceses e os holandeses, quando por aqui estiveram. Era um ponto estratégico, por conta da baía do Pontal, para as naus que se dirigiam ao Rio de Janeiro e ao sul do país, se reabastecerem.
Nossa cidade tem, portanto, relevante importância histórica, sobretudo a partir do século XIX, quando cresceram os investimentos no plantio do cacau e a efetivação da cacauicultura como fonte de renda e desenvolvimento.
No ano de 1815 esteve em visita na Vila de São Jorge, o príncipe naturalista alemão, Maximiliano de Wied-Neuwied, que se embrenhou pela mata, indo até a fazenda Cachoeira, onde vivia o bandeirante João Gonçalves da Costa; partiu depois para Conquista, estudando os costumes dos índios camacã e de outros da região, como também fósseis e artefatos indígenas.
Em 1860 veio o outro Maximiliano, o da Áustria; em sua trajetória rumo ao Rio de Janeiro, onde iria visitar seus primos da família real brasileira, parou em Ilhéus por uma semana para visitar amigos europeus que possuíam fazendas por estas plagas.
Assim, Ilhéus foi crescendo e adquirindo importância, à medida que o cacau era consumido na Europa.
Segundo o professor Arléo Barbosa: “No dia 4 de junho de 1881 o deputado cônego Manuel Teodolindo Ferreira apresentou à Augusta Assembléia Legislativa Provincial da Bahia o projeto de lei datado de 3 de junho, que elevava a Vila de São Jorge dos Ilhéus à categoria de cidade. Subscreveram o documento os deputados Paranhos Almeida, Vigário Batista, Virgilio de Carvalho, E. Baraúna, Reguião, Áppio Cláudio e Carneiro da Rocha.”
No dia 28 de junho de 1881, através da Lei Provincial nº 2.187, a Assembléia Legislativa Provincial enviou ao Presidente da Província, anexo a um memorando, a Resolução que elevava a Vila de São Jorge dos Ilhéus, à categoria de cidade, permanecendo com o mesmo nome. A Resolução foi assinada por João Lustosa da Cunha Paranaguá, mais tarde, Marquês de Paranaguá. Estava, portanto, inaugurada a cidadania dos seus habitantes.
Mas, qual o significado desta afirmativa? Estou querendo chamar a atenção para a importância desta palavra, e que acho, está precisando ser refletida. O Aurélio diz que cidadania representa a qualidade ou estado do cidadão; indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este.
É esta última parte que quero ressaltar, a questão dos nossos deveres. Hoje todos falam sobre nossos direitos, que foram negados por longo período da história. Mas estão esquecendo que a autonomia e a cidadania implicam em muitos deveres. Quanto mais autônomo o indivíduo, maior a sua responsabilidade.
Às vezes gosto de comparar a cidade de Ilhéus dos primeiros anos do século XX, quando ela começou a crescer e a se desenvolver, com os últimos anos do mesmo século e esta primeira década do século XXI. Sinceramente não acho que estamos melhorando, e isso me entristece muito. Vivemos em uma cidade feia, suja, mal cuidada, com poluição de toda ordem: visual, sonora e montes de lixo espalhado por todo lado.
Passei recentemente alguns dias em Salvador e Aracaju. Quando retornei a Ilhéus, ressaltou aos meus olhos, a escuridão das ruas, a quantidade de buracos e a sujeira. Não é preciso muita coisa, apenas cuidado, por parte dos órgãos públicos, mas também por parte de seus cidadãos, que devem ser os maiores interessados. Não temos só o dever de limpar e cobrar, mas a obrigação de fazê-lo, como cidadãos plenos que somos.
E vamos lembrar aquela frase: “cidade limpa não é aquela que mais se limpa, mas a que menos se suja”. É esta comemoração que a cidade de São Jorge dos Ilhéus necessita.
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