Ontem recebi um e-mail de Janete Lainha contendo uma publicação do Blog do Gusmão a meu respeito e da minha opinião sobre o General Osório. Não poderia deixar de responder, pois acho que, de certa forma, fui desrespeitada, inclusive em meu trabalho.
Prezado Sr. Gusmão.
Não tenho o costume de polemizar opiniões, porque respeito a opinião de todos, como gostaria que respeitassem as minhas. Afinal ainda vivemos em uma democracia e opinião, cada um tem a sua. E se o senhor não gosta das minhas opiniões, não as leve em consideração – eu também não gosto das suas.
Mas, como me senti ofendida com o que postou em relação aos indígenas de Olivença, decidi responder-lhe.
O senhor diz o seguinte: “Em 2009, numa entrevista ao radialista Vila Nova, ela afirmou que os Tupinambá de Olivença são índios impuros. Na sua afirmação, ela restringiu a genética apenas às características fenotípicas (visíveis, a exemplo da cor da pele)”. E ainda que: “Num lapso inadvertido, lembrou a eugenia, a terrível busca por uma ‘raça pura’. Talvez, a falta de atenção esteja ligada à formação da professora, licenciada em filosofia, nunca em história”.
Sr. Gusmão, o dicionário Aurélio diz sobre o verbete ‘eugenia’ – “ciência que estuda as condições mais propícias à reprodução e melhoramento da raça humana”. Esta ciência eu realmente não conheço, não faz parte do que gosto de estudar.
E o que afirmei naquela ocasião foi que, uma característica do brasileiro e sua principal riqueza, é a miscigenação. Eu não disse que os índios de Olivença são impuros, porque esta palavra não faz parte do meu vocabulário. Eles são mestiços, como eu e o senhor também somos. Se lhe interessa saber, tenho como bisavós um português casado com uma índia. E muito me orgulho disso. Mas acredito profundamente que todos fazemos parte da sociedade brasileira.
Mais abaixo o senhor desdenha da minha formação em filosofia e “nunca em história”. Sua opinião demonstra que o senhor não me conhece. Sou formada em filosofia, sim, mas tenho especialização em História Regional. Foram dois anos de curso, com monografia defendida, numa parceria da UESC com a UCSAL. Tudo que afirmei naquela entrevista não foi opinião minha. Foi fruto de uma longa pesquisa que fiz em livros de história. Sou historiadora porque fiz o curso de historiografia.
Tenho 6 livros publicados sobre a história de Ilhéus, todos fruto de longa pesquisa realizada. Meu trabalho é reconhecido pela UESC, pela UFBA, pela UNEB e pela comunidade acadêmica, de modo geral. No último mês de agosto foi publicado um livro pela Via Literarum em parceria com a Fundação Casa de Jorge Amado e a Academia de Letras da Bahia, sobre Jorge Amado, e fui convidada a fazer parte da publicação, com um artigo. E em setembro apresentei no VI Colóquio Internacional sobre Educação em Aracaju, na UFS, um artigo sobre meu trabalho. Eu não paro de estudar.
Sobre o General Osório, o que tenho a dizer é que, admiro, sou fã do Teatro Popular de Ilhéus. Sou parceira de Bruno Susmaga e de Hermilo Menezes a muito mais tempo do que o senhor possa imaginar; sou fã de Romualdo Lisboa, de Tania e de todo o grupo, dando apoio ao trabalho que realizam e reconhecendo, como todos, que sem eles, a cultura em Ilhéus não seria a mesma. Só acho que o assunto precisa ser melhor discutido.
Lamento profundamente que o trabalho realizado por Jabes Ribeiro para transformar o General Osório em biblioteca e arquivo públicos esteja como está. e, nas suas palavras, o prédio esteja “quase em ruínas”. É interessante que o senhor saiba da importância do arquivo público, não só para os historiadores como eu; mas, principalmente, para os funcionários públicos que necessitam de comprovação para aposentadoria.
Tudo isso precisa ser conversado e discutido. E se eu for convencida de que esta opção é a melhor para a cidade e seu patrimônio, tenha certeza de que não atacarei ninguém que seja contrária à minha opinião, pois só dois tipos de pessoa não mudam de opinião: os tolos e os mortos.
É só o que tenho a dizer.
Atenciosamente,
Maria Luiza Heine
(Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Especialista em História Regional, Licenciada em Filosofia, doutoranda em Educação, professora universitária, escritora)
OBS.: Pensei muito antes de responder. E cheguei à conclusão de que nada acontece para Ilhéus melhorar porque as pessoas pensam de modo individualista e são incapazes de discutir um assunto, seja ele qual for, pensando no melhor para a cidade e para seus moradores.