por Carlos Pereira Neto[1]
O intelectual baiano Walter Silveira e o historiador Nelson Werneck Sodré afirmaram ser Eusínio Lavigne “um mestre humanista”. Dotado de grande cultura, ele, em sua existência, sempre lutou para eliminar as injustiças sociais reinantes no mundo e aperfeiçoar o ser humano, não havendo conflitos entre o seu agir e pensar.
Cacauicultor, advogado brilhante – em verdade jurista, político, escritor e jornalista, ele publicou inúmeras obras e artigos em jornais e revistas, publicações essas imprescindíveis para quem queira conhecer a história de Ilhéus, dentre elas, os livros: Cultura e Regionalismo Cacaueiro; Como Nasceu o Instituto de Cacau; Lagoa do Itaípe; Castro Alves, Perene Inspiração; Cooperativas Semi-Estatais, Abastecimento, Problemas de Ilhéus; A Unidade da Lavoura pelo Cooperativismo; Uma Parcela de Minha Contribuição na Defesa do Porto do Malhado; Os Meus 87 Anos e Outros Assuntos; O Fenômeno Tio Juca; A Solução do Café Pelas Cooperativas Semi-Estatais; Os Espíritas e as Questões Sociais; O Instituto Cardecista da Bahia e a Sua Significação; e os de Direito – Ação Demarcatória e Ação Rescisória e Coisa Julgada.
Participou de vários movimentos sociais e políticos democráticos, desde a campanha civilista de Ruy Barbosa, revolução de 1930, movimento de partidários da paz, campanha pelo petróleo é nosso (que originou a Petrobrás), tendo em todos eles posição de destaque.
Líder da revolução de 1930 em Ilhéus, foi interventor de 1930 a 1934, sendo eleito Prefeito neste último e governando a cidade até 1937, quando foi cassado e preso em razão de ser adversário da ditadura do Estado Novo. Como prefeito, sem qualquer sombra de dúvidas, foi o melhor governante de Ilhéus em todos os tempos, a ele é devido o atual perfil urbanístico da cidade.
Ilhéus era uma concha encravada entre os morros da Conquista, Vitória e São Sebastião, ou seja, era apenas o atual Centro. Apelidado pelos adversários de “Prefeito Tatu”, contratou a empresa Da Rin e Gonçalves para elaborar o PRIMEIRO PLANO DIRETOR DA CIDADE e, baseado nele, com homens usando picaretas e galeotas, aterrou os charco da Ilha das Cobras e do Opaba e abriu diversas Ruas e Avenidas, sendo as principais a Rua da Linha e as Avenidas Bahia, Canavieiras, Belmonte e Itabuna (inclusive o corte abaixo do viaduto), também criou os bairros do Malhado, Bela Visão, Cidade Nova, Avenida Itabuna, Basílio, Carneiro da Rocha e Barra, comprando ou desapropriando fazendas para tanto. Foi quem mais construiu e cuidou de estradas no interior, tendo inclusive construído a primeira ponte na estrada Ilhéus-Olivença.
Usando a sua vasta cultura jurídica, fundamentando-se nas CARTAS RÉGIAS DE DOAÇÃO E FORAL DA CAPITANIA DE ILHÉUS, ajuizou, em 09 de novembro de 1932, Ação Demarcatória reivindicando a propriedade de todos os terrenos da cidade, para o município.
Com sensibilidade arrecadou dinheiro dos banqueiros do jogo do bicho e com ele construiu o Abrigo São Vicente de Paula e a Cruzada do Bem pelo Bem, também, juntamente com o engenheiro Osório de Carvalho, foi o principal fundador do Clube Social de Ilhéus.
Dentre todas as suas obras, pelo seu significado, a principal foi a construção do Ginásio de Ilhéus (IME), o primeiro ginásio do interior da Bahia.
Entre tantos feitos e realizações, Eusínio Gaston Lavigne, foi um dos fundadores do jornal “O Diário da Tarde” e pioneiro nas lutas para a criação do Instituto de Cacau da Bahia (na década de 30) e do Porto do Malhado, através de discurso proferido no auditório do Edifício Bancrelar, quando foi fundada a Associação de Defesa do Porto da Região Cacaueira, em 12 de janeiro de 1958.
Outrossim, encomendou ao historiador Silva Campos a mais completa obra sobre Ilhéus, o livro “Crônicas da Cidade de Ilhéus” – fonte obrigatória de qualquer livro até agora publicado sobre a história da cidade.
“Extraordinário líder espiritualista” como o definiu o industrial João Falcão no livro “O Partido Comunista que Eu Conheci”, onde descreve os seus 20 anos de militância, Eusínio, sem nunca ter sido comunista, concorreu ao Senado, para a constituinte de 1946, juntamente com Luís Carlos Prestes, integrando a chapa daquele partido. Isso por que considerava ser o socialismo um regime necessário na evolução espiritual do homem. Durante muitos anos, além de ter presidido a comissão de sua fundação, Eusínio foi o principal financiador do jornal comunista “O Momento – Diário do Povo”.
Uma das características do homem humanista é ser universal e, como prova a história da literatura mundial, somente os escritores que carregam a cultura do seu torrão natal conseguem a universalidade.
Ilheusense é a denominação correta de quem é nativo de Ilhéus, segundo defendia Eusínio Lavigne, lastreado em pareceres dos consagrados gramáticos Cândido de Figueiredo e Souza Prado. Cidade dos Ilhéus, o topônimo é derivado das pequenas ilhas localizadas em frente da cidade.
O traço marcante de sua personalidade era o humanitarismo, conseguindo sê-lo, acredito, por amar a sua cidade com uma força infinita, assim como amava os homens.
Eusínio “um mestre humanista”, porque foi sobretudo, na essência, um grande ilheusense ou, como poeticamente diz o socialista Napoleão Marques, “Eusínio santo universal, homem de carne e de osso, imagem de aço e de flor, esculpida com o barro de Ilhéus”.
[1]Carlos Pereira Neto é advogado e político
*No ano 2000 publiquei o livro “IME – o sonho de Eusínio Lavigne”. Pedi ao então secretário de administração, Dr. Carlos Pereira Neto, fã incondicional de Eusinio Lavigne, que escrevesse sobre um texto sobre o mesmo, para incluir no livro. Lembrei então deste texto quando recebi o e-mail de Pawlo Cidade e resolvi publicá-lo.
Maria Luiza,
obrigada pela informação compartilhada, sempre bom saber um pouco mais sobre Ilhéus e os homens que dela fizeram cidade.
Cláudia
estudo no ime ha cinco anos e gosto muito de estudar la pode crer e de sifu vei autas resenhas
Obrigada, Shestela, pela mensagem.
Você me fez sentir saudade do tempo da professora Ana Maria, de português.
Lembro bem de Ana Maria gente boa demais!
Além de gente boa, excelente professora.
Obrigada pela mensagem.
Maria Luiza Heine
[…] este livro reúne artigos publicados na imprensa por dois conhecidos espíritas: Eusínio Lavigne, advogado e empresário de Ilhéus, BA, e Sousa do Prado, ex-membro da Federação Espírita Brasileira. Trata-se de um grande debate […]
obrigada pela mensagem.
Absolutamente fascinante a vida desse grande humanista ilheusense e enche de orgulho todos os brasileiros que julgam ser a fraternidade o bem maior da vida.
Que orgulho!!!!!
Agradeço sua mensagem.
Um grande abraço.