Capela de Santana construída no séc. XVI |
A vila de São Jorge dos Ilhéus foi fundada na primeira metade do século XVI, segundo os viajantes que escreveram sobre o assunto. No início foi uma próspera vila, cuja prosperidade durou pouco. Depois de 1560, com a deflagração de uma forte epidemia de varíola, a vila entrou em um marasmo que perdurou por mais de duzentos anos. A região só começou a se desenvolver quando o cacau começou a gerar lucros e muito dinheiro.
Os séculos XVII e XVIII não são bem conhecidos, nem para quem pesquisa esta história há cerca de 15 anos, como é o meu caso. Recentemente descobri, entre os livros que comprei e ainda não havia lido, um que fala com muitos detalhes desta época, e o mesmo será motivo das minhas próximas matérias. Trata-se de “Caminhos ao Encontro do Mundo” dos historiadores Antonio Fernando Guerreiro de Freitas e Maria Hilda Baqueiro Paraíso, uma publicação de 2001 da Editus (UESC).
Logo na Introdução os autores lembram, e sempre foi uma queixa nossa, que para os estudiosos e interessados pela história da Bahia, a região cacaueira permaneceu esquecida durante muito tempo. E que, quando se falava da história da Bahia, ela sempre se referia a Salvador e Recôncavo.
Depois da criação das Capitanias Hereditárias, houve um estímulo ao plantio da cana-de-açúcar, produto que estava em alta no comércio da Europa.
Freitas e Paraíso lembram que o projeto açucareiro foi implantado tendo, como base, a utilização do trabalho escravo dos Tupinikin, definidos como “mansos e cooperativos”, pelo padre Manoel da Nóbrega, em carta ao padre Simão Rodrigues de Azevedo, em 1550.
Acontece que as relações de caráter relativamente pacíficas existentes entre os colonos e os índios, que vigoravam até então, foram quebradas quando o colonizador resolveu escravizar o Tupinikin, gerando insatisfação.
Os brancos passaram a invadir o território indígena para o plantio de cana-de-açúcar e de roças, para a construção dos povoados e dos engenhos de açúcar. Outro fator importante, segundo os autores consultados, foi a nova destinação dada aos prisioneiros de guerra, “que passaram a ser desviados dos rituais antropofágicos para os engenhos”, onde se tornaram importantes atores no funcionamento da economia colonial recém implantada.
Segundo os autores consultados, uma questão que exigia ação imediata da coroa portuguesa, era a prática de assaltos por donatários e colonos às aldeias indígenas aliadas dos donatários das Capitanias vizinhas. Essa prática acentuava os conflitos, a anarquia interna e entre as Capitanias, colocando em risco não só os projetos de conquista como também o de enriquecimento dos colonos.
Ao buscarem soluções para resolver o problema do marasmo econômico, os colonos resolveram organizar entradas para os sertões, na busca de índios e metais preciosos. Este fato agravou os conflitos, envolvendo também os Aimorés.
Os conflitos entre índios e colonos, sempre constantes na área denominada Baixo Sul, que compreende os povoados de Cairu, Camamu, Jaguaribe e Boipeba, que faziam parte da Capitania dos Ilhéus, eram vistos como a maior dificuldade para a consolidação do processo de colonização. Como conseqüência da situação, em 1595, foi decretada a Guerra Justa aos índios das Capitanias dos Ilhéus e Porto Seguro, mas a efetivação aconteceu a partir de 1597, no governo de Francisco de Souza.
O primeiro aldeamento da Capitania, após muita luta se concretizou no ano de 1601. Estava localizado na lagoa de Itaípe, sob a direção do jesuíta Domingos Rodrigues.
O livro consultado diz ainda que, as lutas com os indígenas fez com que a Capitania entrasse em falência; esta situação obrigou grande parte dos moradores e colonos a migrar para outras áreas, principalmente, para a Capitania da Bahia, promovendo o despovoamento da região. Os que permaneceram na Capitania dos Ilhéus passaram a sobreviver da pesca, do extrativismo de madeira e piaçava, da lavoura de subsistência e da criação de animais para consumo familiar. Na obra de Cardim, citado por Freitas e Paraíso, a Capitania dos Ilhéus era “abastada de mantimentos, criação de vacas, porcos, galinhas e algodões”, mas, devido à guerra com os Aimorés, só restavam três engenhos de açúcar e a ocupação para o interior não se estendia a mais de meia légua (cerca de três quilômetros).
Foi desta forma que chegou o final o século XVI, na Capitania dos Ilhéus.
Mapa mais antigo da região de Ilhéus – 1586 |
Fonte: COELHO FILHO, 2000
ILHEUS E UM ESPETACULO !