A cabeça das pessoas é algo muito interessante e contraditório. Enquanto algumas gostam do amarelo, outras preferem o azul. Isso para se falar de gosto. Quanto aos costumes, existem muitas outras coisas ainda mais interessantes. Alguns acham que determinados costumes são permitidos, e não há nada demais em fazê-lo, outros acham um absurdo. E por aí vai. Essa conversa toda é para falar dos romances de Jorge Amado. Enquanto alguns se escandalizam com suas histórias, outros querem assumir tal ou qual personagem. Enquanto alguns entendem que Gabriela é uma “devassa”, outras sentem orgulho de ser cognominada Gabriela.
Estou falando também, de muitas outras, mas, especificamente de JANETE LAINHA, a “Gabriela de Ilhéus”.
Janete Lainha Coelho nasceu em Ilhéus, num dia em que se comemorava São Jorge, um dos nossos padroeiros. Ela é “filha de Oxossi e, sobretudo, Artista. Apaixonada pela Literatura Universal e todas as formas de Arte, tem uma especial devoção pelo Cordel”.
Janete atua na Casa dos Artistas, no Vesúvio, e em muitos outros lugares, como Gabriela. Atua em muitos outros espetáculos, tendo se transformado em baluarte da cultura popular local.
“Seus trabalhos literários são publicados em jornais, revistas e antologias, que impressionam pela força e elegância. Vários destes trabalhos foram premiados em concursos nacionais e em festivais, e atestam a qualidade de sua poética. Seus escritos geralmente comentam, através de uma ótica moderna e universal, o drama do ser humano”.
Janete utiliza o pseudônimo de “Nordestina a trovadora educadora” e uma literatura-informe cultural com rima desprovida e tradição rica.
Em suas publicações, na última página, tem o texto que colocamos a seguir.
A História recorre cada vez mais a fontes informais para examinar os personagens e fatos que marcam a trajetória de um povo. Seguindo essa tendência, a pesquisadora baiana Janete Lainha Coelho, a Trovadora Educadora se utiliza do cordel. Como cordelista, dispõe de mais de 400 títulos espalhados pelo Brasil. Frágeis folhetos vendidos nas praias (foi pioneira) e feiras nordestinas, para traçar um curioso panorama da realidade brasileira nos últimos anos. Do Cordel ao matuto de Jorge Amado a Minervino Silva, quase nada escapa a crítica mordaz dos poetas populares, com rimas geralmente desprovidas, mas que revelam uma riquíssima visão de mundo.
Há poucos dias recebi de presente “O Cordel de Gabriela nas Terras do Cacau”, motivo desta minha matéria. Diz o seguinte:
Falei sobre Jorge Amado Cordel por mim criado Lido em toda a região Cujo folheto versado Digo nesta ocasião Já se acha esgotado Gabriela cravo e canela Pretendo biografar Neste simples folheto Em estilo popular Que a mim por direito Venho à imagem zelar Aqui começo a descrever Em Ilhéus como cenário Dos vários personagens Coronel, quenga e vigário Nas terras do cacau De Jorge a imaginário A morena Gabriela Segundo o escritor Senhor Jorge Amado Mulher simples de valor Conquistou seu amado Com seus dotes, com amor […] Por também ser feminina E humilde trovadora Ter muito em comum E também ser sonhadora Digo que essa mulher É musa inspiradora |
Quem quiser ler todo o resto, pode procurar para comprar (a rima deve ser influência do texto).
Meus amigos, além de escritores, esta região possui grandes artistas. Precisamos valorizá-los, pois que povo pode viver sem arte? Minha admiração e amizade à Gabriela nordestina, a trovadora educadora.